"O personagem vive a vida, que devia ser a nossa, a vida que recusamos. Outra verdade, que julgo definitiva, é a seguinte: a alegria não pertence ao teatro. Pode-se medir a força de uma peça e a sua pureza teatral pela capacidade de criar desesperos. O teatro ou é desesperado ou não é teatro".
Nelson Rodrigues

sábado, 8 de dezembro de 2007

A insônia insana do insosso instante

Não sei exatamente a explicação fisiológica para isso, mas em algumas noites minhas pernas ficam muito mais quentes do que de costume, tão quentes a ponto de me impossibilitarem o sono. É assim: poucos segundos depois de deitar a cama toda fica impregnada desse calor incômodo e desconcertante, e começo a achar que o mundo todo é muito quente e que isso se deve ao aquecimento global - no caso, aquecimento global desse ecossistema que sou eu mesma.

Eu tenho insônia porque eu sou um ecossistema, porque tenho dias de tempestade, dias de sol, de calor e frio, dias de frio gelado e frio quente..... Hoje é um dia de frio quente porque eu deveria sentir frio, mas estou sentindo calor. As pernas esquentaram e hoje não dormirei mais.

Ao invés de dormir resolvi escrever esse texto sobre calor nas pernas que, com certeza, não será instrutivo para ninguém. Tudo bem, às vezes devemos nos contentar com o fato de escrever sem nenhuma intenção criativa, escrever para passar o tempo, assim como poderíamos estar jogando Bridge ou assistindo aos inúteis programas que passam na televisão de madrugada. Enfim, só escrevo agora porque não consigo dormir e essa opção por escrever, embora equivalente em propósito com as duas anteriores, me pareceu a mais realizável e desejável nesse momento.

Já pensei em tudo para dar fim ao esquentamento: banho frio, balde de gelo, beber água gelada (quem sabe se o meu sistema de arrefecimento não está precisando de um resfriamento interno), até coisas mais simples como ar condicionado e virar de posição na cama foram tentativas vãs e frustradas. A última pela simples razão de não dissipar o calor que fica no lençol. Fiz verdadeiras acrobacias, mudava as pernas de posição a cada 30 segundos para alternar as fontes de calor... e nada.

Acho que existem dias que foram feitos para não serem entendidos, e fenômenos com os quais devemos nos conformar com abnegada resignação. Assim como existem textos nos quais colocamos um ponto final sem saber exatamente porque....

Um comentário:

Fabio Rocha disse...

Fascinante... O corpo é nossa grande razão, já dizia Nietzsche.