"O personagem vive a vida, que devia ser a nossa, a vida que recusamos. Outra verdade, que julgo definitiva, é a seguinte: a alegria não pertence ao teatro. Pode-se medir a força de uma peça e a sua pureza teatral pela capacidade de criar desesperos. O teatro ou é desesperado ou não é teatro".
Nelson Rodrigues

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A outra cena

Segunda-feira, acordo meio-dia, tomo um café-com-leite e nada mais, para não perder a vontade de almoçar numa hora decente. A vida pós-formatura mexe com a rotina, com os ritmos biológicos, e não quero estragá-los por conta de um pão com manteiga - já basta ter arruinado o meu sono. Segunda de sol, um ótimo dia para se ir à praia. Vou sozinha, mas carrego um livro debaixo do braço para fazer companhia às minhas idéias. Me coloco num lugar algo perto do mar, algo distante das outras pessoas que vão à praia segunda-feira. Mas não tão distante assim: me situo no lugar ideal entre o anonimato e a curiosidade (sim, eu gosto de ouvir o que os outros conversam na praia). Resolvo pedir uma cerveja, coisa que quase nunca faço às segundas-feiras, e que raras vezes faço na praia. Penso no prazer que sinto em inserir pequenas cenas na vida, prazer de não deixá-la correr no automático, poder ficar debaixo do sol pensando coisas cheias de calor.

Por detrás da cena que dirijo - na diagonal esquerda inferior encontra-se um grupo de homens falando sobre a mulher que um deles comeu no fim-de-semana e que ficou "de ladinho" e deu pra ver que ela se depilava a laser, o que sai, mais ou menos, uns 180 reais, mas não deixa nenhum pentelho fora do lugar - a Outra cena.

Na Outra cena me equilibro entre aquilo que dirijo e o que me dirije. Sonho, devaneio, imaginação e também realidade, sol quente e concreto. O banal e o essencial, o absurdo e o sentido, tudo ali, posto, dado, se impõe aos meus olhos enquanto leio "a Outra cena".

Anoto num pedaço de papel, penso que é o nome, que ele diz o que quero dizer e ponto. Está decidido.

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